Confira a íntegra do discurso de Fábio Trad na posse do desembargador Romero

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Campo Grande – O novo desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Romero Osme Dias Lopes, tomou posse ontem (16) assumindo a cadeira deixada pelo desembargador José Augusto de Souza. Em uma solenidade bastante concorrida que lotou o plenário daquele tribunal, o novo desembargador foi saudado em nome dos advogados pelo presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, Fábio Trad.

Leia a íntegra do discurso:

Saudação às autoridades:

Neste momento solene, convém recordar Hannah Arendt quando asseverou que “só se pode confiar nas palavras quando se tem certeza de que a função delas é revelar e não dissimular”.

A classe dos advogados de Mato Grosso do Sul, na justa e perfeita sintonia com as aspirações daqueles que lutam pelo fortalecimento das instituições democráticas, saúda a chegada de Romero Osme Dias Lopes neste egrégio Tribunal de Justiça.

Homem culto e laborioso, o Eminente empossando reafirma e justifica o respeito à tradição desta Casa, posto que recorda e revive, a propósito de seus atributos morais e intelectuais, as excelsas virtudes institucionais deste sodalício: a sua história, o seu vanguardismo e principalmente a excelência de seus quadros.

Inspirados no exemplo de Leão Neto do Carmo, José Carlos Correa de Castro Alvim e Milton Malulei, homens cuja biografia realça a estatura moral e intelectual deste colegiado, nós, os advogados sul-mato-grossenses, celebramos a posse de Romero Osme Dias Lopes como um vibrante sinal de afirmação do talento e da vocação para a arte de julgar.

Nesta quadra, convém realçar a perplexidade de Roberto Lyra ao refletir sobre a espinhosa, porém nobre, missão de julgar:

“ COMO JULGAR? Nem manejar a lei como pedra contundente e mortífera, nem tratá-la como inimiga ou parceira. O juiz não é condômino, e muito menos, cabecel da lei. Esta não é muro de lamentações e desabafos. Mais do que altas indagações de direito, valem, às vezes, baixas indagações de fato. O que preocupa e inquieta o magistrado de fundo é a responsabilidade de deliberar sobre o destino de um semelhante. O julgamento não é um ato de ciência, mas de consciência.”

A OAB de MS confia plenamente na capacidade de trabalho do Ilustre empossando, o que traz conforto ao reconhecer que a cadeira deixada pelo eminente desembargador José Augusto de Souza será ocupada por quem tem a mesma visão de judicatura e igual compromisso com o Direito e a Justiça.

Posto isto, com a mais límpida pureza de propósitos e a mais cristalina sinceridade, a classe dos advogados deseja ao Desembargador Romero Osme Dias Lopes que vivencie neste Tribunal os melhores momentos de sua exitosa carreira, atuando com a costumeira serenidade e equilíbrio nos conflitos que, crescentemente, demandam a intervenção da tutela jurisdicional.

Assim o faz a classe dos advogados, hoje beirando a casa dos 9.000 profissionais militantes no estado, através de sua entidade corporativa que é ciosa de sua grandeza e consciente de sua missão histórica.

Entretanto, um alerta precisa ser feito e a OAB o fará.

MS precisa romper as amarras da timidez intelectual que o aprisiona e o apequena no movimentado cenário de produção jurídica nacional. Precisamos nos conscientizar de que, no mundo ideológico do Direito, a importância da produtividade bibliográfica no âmbito de um estado federado é questão estratégica que repercute diretamente nas relações de poder que, frequentemente, acendem disputas por espaços nas mais diversas esferas institucionais do país.

A continuarmos satisfeitos apenas com a rotina do nosso exaustivo labor, legaremos às futuras gerações uma cruel herança cultural: a de sermos apêndices intelectuais dos grandes centros, meros copiadores de lições importadas, sem qualquer nota que nos destaque frente aos demais. Dessa injustificável timidez na produção intelectual decorre, em grande parte, a crônica e obsedante dificuldade de superarmos o desafio de elevar aos mais altos cargos da estrutura do poder, os nosso juristas, tão competentes no ofício da judicatura quanto injustiçados nas escolhas porque reféns de um imobilismo de toda a nossa classe jurídica que poderia e deveria falar na primeira pessoa, e, não ser eco na pessoa dos outros.

Se temos uma grande magistratura, valorosos promotores e defensores e grandes quadros pensantes na advocacia, por que não nos unir pelo bem da nossa cultura jurídica e transformar MS em referência na literatura jurídica nacional ?

Ou isto; ou sempre dependeremos da boa vontade política daqueles que, se conhecessem o nosso potencial, não nos escolheriam por insistência, mas por merecimento e justiça.

Esta é a mensagem da classe dos advogados em homenagem ao talento de todos quantos encarnam seus dotes culturais na erudição e cultura humanística do excelente Magistrado Romero Osme Dias Lopes.

Muito obrigado,

FÁBIO TRAD