Carta aos conselheiros da OAB-MS – por Júlio César Cestari Mancini (*)

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Campo Grande (MS) – Às vésperas da segunda democrática sessão extraordinária do Conselho Seccional da OAB-MS convocada pela atual gestão para escolha dos advogados que irão compor a lista sêxtupla a ser enviada ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul para preenchimento da vaga de desembargador destinada à advocacia através do chamado quinto constitucional, o conselheiro seccional por Três Lagoas, Júlio César Cestari Mancini, enviou carta aos demais conselheiros intitulada “Que durmamos o sono dos justos”. Depois de ler a mensagem, o presidente do Conselho Seccional da OAB-MS, Fábio Trad, fez questão de frisar que concorda em gênero, número e grau, sendo integralmente solidário ao seu conteúdo.

Veja a íntegra da carta

‘Que durmamos o sono dos justos’

Científica e metodologicamente alguém já pontificou que a história não se repete; no entanto, e por hipótese, caso isso ocorresse, seu ‘reprise’ haveria de ser analisado como ‘farsa’.

Por mais outra oportunidade passamos por processo seletivo de escolha de membros dos quadros da OAB/MS para compor lista sêxtupla ao Quinto Constitucional (vaga destinada à Advocacia) do Poder Judiciário deste Estado, cuja sessão extraordinária é no dia 26/06, às 900hs.

Sem medo de errar, o atual Conselho da OAB/MS talvez tenha sido bafejado pela ‘boa sorte’, fato esse que outros que o antecederam não tiveram, pois a ele é dado, mais uma vez, um ambiente institucional ímpar e isso à medida que num mesmo mandato tem o privilégio de proceder à escolha, pela segunda vez, de membros de seus quadros ao referido processo seletivo.

Nesse passo, é momento de imperiosa reflexão, de pulsante articulação de idéias, de profunda e necessária introspecção classista e, principalmente, de respeito ao voto único, próprio e indivisível, fruto do amadurecimento pessoal, profissional e institucional de cada Advogado que compõe o Conselho da OAB/MS.

Nesse lampejo temporal, nesse hiato finito, a vontade individual, o interesse particular – enganosamente ao alcance das mãos, talvez alheias – e a nefasta e pueril idéia de ‘grupos’ hão de se curvar à indelével sofreguidão institucional.

De imediato, nos é dada a chance de encontrarmos com nossa verdadeira identidade, de nos olharmos frente ao espelho, vermos se se parece conosco ou se nos parecemos com ela (!?!?!), com nossos ideais e fraquezas, com nossos projetos de luta, de sonhos, de vida, enfim, com nossa (in) consciência (in) tranqüila.

Não tenho a menor sombra de dúvida que nosso código genético institucional está posto à prova e será analisado, debatido e julgado ao término desse processo seletivo que se avizinha.

Haveremos, sem exceção alguma, de possuir os mesmos filetes (ou código de barras) da ética, da decência, do respeito ao próximo, principalmente quanto esse estiver mais do que próximo, ao lado ou à frente, da franqueza na fala e idéias, dos olhos fixados nos olhos …

Não nos é dada hoje, agora, a possibilidade do erro, da escolha infensa aos interesses da instituição, da própria Advocacia em sua plenitude, da excelência da idéia ou do termo que nela encerra, haja vista ‘o tempo não perdoa o que se faz sem ele’.
É também certo que os ventos que sopram no mês de junho não são os mesmos que sopraram no mês de outubro; a estação é outra, cuja peculiar névoa pulveriza, senão aniquila, como varinha de condão, os tropeços e equívocos pretéritos, quase que esquecidos.

Espero, com certeza, que tenhamos a consciência (tranqüila) da importância que recai sobre nossos ombros, que tenhamos a idéia de que de nossa escolha (institucional) advirão conseqüências a serem suportadas por nossa instituição, pelo Poder Judiciário e, principalmente, pela própria sociedade deste Estado.

Qualquer que seja o resultado do processo seletivo, ainda por mais certo que seja, deseja ou se espera (ledo engano!!!!), a advocacia sulmatogrossense haverá de sair vitoriosa e fortalecida e, igualmente, os membros do Conselho da OAB/MS haverão fixar seus olhos, um no outro, como se vissem no próximo seu próprio rosto sorrindo para o futuro, logo ali, e quando voltarem aos seu lares, suas famílias, possam desfrutar do sono dos justos, recompensa certa e desejada por todo aquele que traz consigo consciência tranqüila.


Três Lagoas-MS, 23 de junho de 2008.

Julio Cesar Cestari Mancini – Advogado
Conselheiro Estadual OAB/MS