Com 40 anos de advocacia, Sidenei exibe paixão pela profissão e incomparável eloquência

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Um exemplo de vigor e paixão, não apenas para aqueles que militam na área criminal, mas para todos os advogados. Sidenei Pereira de Melo, de 74 anos, já tem mais de 40 anos de profissão e uma incontestável paixão pelo que faz.

Sidenei fez uma visita a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS), nesta sexta-feira (20), para agradecer o reconhecimento após receber comunicado da Tesouraria de isenção do pagamento da anuidade.

Ele foi recepcionado pelo Presidente da OAB/MS, Mansour Elias Karmouche, Tesoureiro Stheven Razuk e pelo Conselheiro Estadual Juliano Tannus e disse que está muito orgulhoso do “reconhecimento dessas pessoas que contribuíram tanto para a instituição”. A legislação prevê a isenção para o advogado que completa 70 anos de idade e 30 anos de profissão, que é o caso de Sidenei. “Nós estamos antecipando, antes que a pessoa venha pedir, a Ordem já encaminha ofício comunicando que eles estão isentos de pagamento da anuidade”, explica Mansour.

“Estou muito feliz e orgulhoso de receber essa homenagem, porque eu considero uma homenagem essa isenção, uma contribuição à classe que não é pequena, foram quatro décadas. O que mais me agrada, é que a OAB na sua gestão, reconhece o advogado quando ele merece. Isso é importante”, diz agradecendo a Diretoria com sua carteira e comunicado em mãos.   

Sidenei dividiu com todos um pouco de sua história. São mais de 40 anos de advocacia criminal em Mato Grosso do Sul e um amor pela profissão que deixa muitos jovens advogados admirados. O número da carteira da OAB é 1973. “Pega em uma época em que o Estado estava recém sendo criado”, ele cita.

 

História de Inspiração

 

Árbitro de futebol, Músico, Professor primário e Diretor de uma empresa de acessórios veiculares. Foram muitas as atividades de Sidenei antes da advocacia. “Com o tempo decidi que queria mudar de profissão, quando comecei a cursar Direito em São José do Rio Preto (Cidade Natal). Quando me formei, como eu era Diretor da empresa, decidi abrir um filial em Campo Grande. Já tinha vindo tocar dois bailes aqui e gostei. Naquela época, mudamos eu, minha esposa e meu filho mais velho. No início dos anos 80 comprei a filial, uma fazenda, me tornei Diretor do Operário e viajávamos o Brasil todo para jogar. Foi uma projeção pessoal muito rápida. Em 1985, fui candidato a Presidente da Federação Nacional de Futebol, todo dia dando entrevistas para TVs, rádios e jornais”, diz empolgado sobre o reconhecimento recebido na carreira que, até então, queria seguir.

Foi quando ele descobriu a paixão pela advocacia. “Comecei com as primeiras causas e me apaixonei”. Hoje, Sidenei tem dois escritórios, um em Campo Grande e um no Rio de Janeiro. “Eu sou muito empolgado no exercício da advocacia. Eu me sinto jovem. Não sinto falta de ânimo para advogar”.

E o que ele mais gosta de fazer? Júri. “Dizem que eu sou muito bom em oratória”, diz sorridente afirmando “quando tem júri, eu que vou fazer. Para mim, a parte mais eloquente da advocacia no Tribunal de Júri é a apresentação do Advogado, os cumprimentos ao Juiz, ao Promotor, aos Jurados, aos familiares da vítima e do acusado, aos presentes e estudantes. Eu cumprimento um por um”.

Exemplifica: “Eu iniciei assim: Só a injustiça tem receio do escudo temível do segredo. A Justiça, ao contrário, não tem razão para temer. Derruba por terra todos os escudos e véus e mostra seu olímpico esplendor. É esta justiça que buscamos nesse plenário”. E dá outro exemplo: “Que Deus lhes permitam (dizendo aos jurados) o acesso total à inteligência para discernir qual objetivo da acusação e da defesa. Porque hoje, nós não estamos tratando de matéria de Direito, nós queremos Justiça. Às vezes, o Direito foge a Justiça. Se o acusado merece ser condenado ou deve ir embora para casa com a consciência tranquila”. 

Sidenei compartilha outra das tantas histórias fora do Estado. “Uma vez, há mais de 12 anos atrás, em um júri antes da oratória, no intervalo de almoço, procurei pelo Promotor e ele estava almoçando com os jurados. Não acreditei. Na hora procurei a Juíza e contei. Ela esculachou o Promotor, suspendeu e prorrogou o júri e nomeou outros Promotores e outros jurados. Eu, até hoje, nesses 40 anos, não vi caso idêntico. Ele queria aliciar os jurados. No crime, você aprende a conhecer um pouco da mente das pessoas”.

Com um incontestável vigor, Sidenei cita que “pegou uma causa” na Argentina, onde com 72 anos chegou a visitar um casal de clientes na fronteira com o Chile. “Já atendi gente no Japão, Inglaterra, Espanha, etc”.  

Como ser bom advogado?

 

 

“Nós temos muitas dificuldades na advocacia. Montar um escritório, hoje em dia, é muito difícil. As despesas diárias com manutenção e funcionários não são para qualquer um. Por isso, é preciso incentivo e força de vontade. A OAB tem um papel essencial nisso, que vejo que está fazendo com muita garra, mostrar a sociedade que estamos aqui para representá-la, que a advocacia merece ser respeitada e que estamos à disposição dos mais jovens, que estão iniciando na carreira”, pontuou.

Foram 40 anos de profissão, sem qualquer procedimento ético disciplinar. “Quando um advogado comete uma infração, a classe sofre, é um mau exemplo, porque a sociedade o reconhece como representante da OAB. Quando temos um profissional ético, mostramos que a classe é sim merecedora”.

Uma das mensagens de Sidenei vai para quem está iniciando na profissão. “O mais importante é o respeito ao colega”. Sidenei conta que quando um cliente aparece em seu escritório reclamando de um colega de profissão “querendo trocar de advogado. Eu ligo para meu colega e pergunto o que aconteceu, o por que do não contentamento. Por vezes, ele está com a razão, eu explico, até perco o cliente, mas sei que não vai ser aquilo que vai me fazer mais rico. O antiético não vai fazer isso, não é? Eu sempre fiz isso. A gente precisa sim respeitar o colega”.