Artigo: Sacudir a letargia

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O artigo “Sacudir a letargia”, de autoria do jornalista Clóvis Rossi, foi publicado na edição de hoje (17) do jornal Folha de S.Paulo: “É sintomático que tenha partido da OAB ( Ordem dos Advogados do Brasil), e não de um partido político, a melhor iniciativa política em muitos anos. Refiro-me, como é óbvio, à campanha nacional pela mudança da lei do plebiscito e do referendo, com base em anteprojeto de Fábio Konder Comparato, que prevê a iniciativa popular de convocação de referendos e plebiscitos. Demonstra que os partidos políticos, que deveriam fazer a intermediação entre a sociedade e o Estado, demitiram-se da função. Mesmo o PT, que parecia ou fingia conservá-la, desligou o fio terra. Prova mais recente: o silêncio do partido em relação aos escândalos de corrupção envolvendo um prefeito do PT (o de Macapá) e um governador (Roraima), ex-petista. Quem é que imaginou, até dois anos atrás, pouco mais, pouco menos, que figuras desse porte do PT pudessem se envolver em maracutaias? E que o partido silenciasse? Definitivamente, são todos agora farinha do mesmo saco, e foi preciso a OAB enfiar a mão no saco para tentar sacudir a farinha. Mas a vantagem da iniciativa não é só essa. Ela pode sacudir a letargia da sociedade em relação à política -uma das causas, talvez a principal, de o Brasil ser o que é. Brasileiro, com poucas exceções, limita sua atividade política ao dia da eleição. Vota, delega ao eleito a responsabilidade, volta para a casa e esquece da vida política. Dá no que deu. A mobilização em torno de referendos sobre temas cruciais poderá criar outra dinâmica política. Não quer dizer que será assim obrigatoriamente, porque não são leis que mudam a cultura política, mas a prática cotidiana, difícil, pedagógica e, por isso, demorada. É ainda uma maneira de eventualmente interessar cidadãos “de bem” a meter-se na política, posto que a maioria deles tem nojo (usemos a palavra certa) de envolver-se com partidos. Já defender uma dada iniciativa popular independe de partidos. Tomara que dê certo”.