CRÔNICA: O homem da capa preta

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Como servidor da casa de MANOEL FERRAZ DE CAMPOS SALLES (imortal patrono do Ministério Público do Brasil), como dito em artigos e ou crônicas anteriores, e mediante autorização de sua Chefia em Cuiabá, ainda no Estado de Mato Grosso uno, semanalmente me deslocava a Miranda para praticar atos de meu ofício.

E sempre pelo trem de passageiros da Noroeste do Brasil, e normalmente às sextas-feiras, à exceção quando havia julgamentos pelo Tribunal do Júri, quando ali permanecia o tempo necessário para atendimento da respectiva pauta.

Isto nos idos de fevereiro 1.967 a setembro de 1.971.

Quando ali chegava e me dirigia ao cartório do 1° Ofício, do saudoso amigo AIRTON DE ALBUQUERQUE, progenitor do respeitado 2° Promotor de Justiça de Aquidauana, Dr. JOSÉ MAURÍCIO DE ALBUQUERQUE, percebia que de longe um cidadão de estatura avantajada, trajando uma longa capa preta, me seguia e permanecia o tempo todo por perto, enquanto eu desenvolvia minha atividade funcional.

Na hora do almoço quando ia para o Hotel dos Viajantes, do saudoso PETITO (LUIZ LEITE DE ALBUQUERQUE, Presidente do Lions Clube de Miranda), lá estava, ao longe, o dito cujo, e por ali permanecia até que eu retornasse de trem para Corumbá.

Semanas após semanas, meses após meses lá estava o HOMEM DA CAPA PRETA a me espreitar.

Comecei a ficar temeroso, pois no desempenho de meu ofício, claro que contrariava interesses outros e participava ativamente de julgamentos de processos criminais e de julgamentos pelo Tribunal do Júri.

O meu temor aumentava a cada dia e para me fazer de forte e destemido, jamais procurei perguntar ao AIRTON ou ao TONICO MASSUDA, também de saudosa lembrança, este titular do 1° Ofício, quem era o tal HOMEM DA CAPA PRETA.

Mas tudo tinha e tem um limite, e n’uma dessas idas a Miranda, enchi-me de coragem e resolvi enfrentá-lo.

Desci do trem, e sem titubear me aproximei do HOMEM DA CAPA PRETA, que lá estava nas imediações do Cartório do seu AIRTON, a minha espera.

Com voz firme perguntei-lhe o que queria, que história era aquela de estar me seguindo pelas ruas da cidade, e coisas desse tipo.

Qual não foi minha surpresa que em resposta disse-me com respeito, e até humildade, que estava ali para garantir minha pessoa, minha integridade física, como meu guarda-costa fosse.

Aquietei-me e aliviei-me.

A paúra, o temor, o medo, o receio, sairam de pronto de minhas entranhas.

Aí sim, fui perguntar ao AIRTON e ao TONICO, sobre aquele cidadão.

Outra surpresa, o HOMEM DA CAPA PRETA era uma pessoa especial, de fino trato, inofensivo, enfim, amigo de todos.

Por esta situação eu jamais esperava.

Porem ficou na minha lembrança o HOMEM DA CAPA PRETA de Miranda.

(*Carlos Bobadilla Garcia é promotor de justiça aposentado e advogado militante na Comarca de Corumbá)