CRÔNICA: O Trem do Pantanall - O Romantismo das Viagens, Cenas Inesquecíveis

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Quando jovem no pleno vigor físico e cheio de sonhos (ainda os tenho) lembro-me, como se hoje fosse, das minhas viagens semanais pelo trem da saudosa Noroeste do Brasil, e, como servidor, por quase trinta e oito anos, da casa de MANOEL FERRAZ DE CAMPOS SALLES (imortal patrono do Ministério Público do Brasil), de idas e vindas entre Corumbá e Miranda (terra do ilustre mirandense, Dr. PEDRO PEDROSSIAN, excepcional Superintendente daquela empresa, na década de 1.960, e que, em curto espaço de tempo, reformou todas as composições de passageiros que faziam o trecho Baurú-Corumbá, propiciando aos seus usuários total conforto, além de outras medidas administrativas de extraordinário alcance social).

Valendo-me da valiosa colaboração de ex-servidores daquela respeitada empresa, entre os quais, o amigo OSMAR GERALDO DE SOUZA (Osmarzinho da Nob), dos senhores ANIZIO GUATÓ e FLAVIANO DOS SANTOS, recordei-me das paradas obrigatórias existentes naquele trecho, entre elas, Salobra, Coronel Juvêncio, Guaicurús, Portocarreiro, Bodoquena, Posto 29, Carandazal, Posto 50, Agente Inocêncio (ramal de Porto Esperança), Posto 81, Albuquerque (marco histórico da fundação de Corumbá), Generoso Ponce, Antonio Maria Coelho (homenagem ao herói da Retomada), Urucum (local das famosas minas de minério de ferro e de manganês) e, finalmente, Corumbá (a linda Cidade Branca).

A composição composta de locomotiva a diesel (já não era mais a famosa MARIA FUMAÇA, que não tive a alegria de conhecer) vagão das encomendas e do Chefe do trem, vagões da segunda classe, vagões da primeira classe, vagão restaurante e vagões das cabines, todos com bastante conforto, deslizava sobre os trilhos em velocidade que oscilava entre 50 e 70 km/hora, sempre no balanço característico e ao som do toc-toc (ruído produzido pelo atrito da roda da composição com as emendas dos trilhos).

A viagem, em verdade, era uma festa em todos os sentidos, pois além do bate papo agradável entre os passageiros, não faltava um bom violeiro a brindá-los com músicas regionais, onde nunca faltava a famosa CHALANA, do saudoso MÁRIO ZAN.

O interessante, e de profunda emoção, eram as paradas naquelas localidades, de duração nunca superior a dois minutos.

Em muitas delas, entre as quais, Guaicurús, Bodoquena e, principalmente, Carandazal, naqueles dois minutos de parada, além do desembarque e do embarque de passageiros (moradores da região e ou peões das fazendas de criação de gado), havia uma verdadeira feira, qual seja, venda e compra de comestíveis (chipa, bolinho de arroz, peixe frito, mandioca frita, etc.), de frutas (banana, manga, laranja, mamão, melancia, caiá e a deliciosa bocaiúva) e de alguns artesanatos manipulados por moradores locais.

E o corre-corre era permanente porque todo esse comércio ambulante era efetuado em dois minutos, pois logo o apito do Chefe da composição e o apito do trem avisavam que a composição ia partir.

E nesse sobe e desce de passageiros por inúmeras ocasiões encontrava-me com alguns amigos, de saudosa lembrança, entre eles, os respeitados pecuaristas, NHONHO BOTELHO, NENO RODRIGUES e JOSÉ DOMINGOS KASSAR (Vice-Prefeito de Corumbá em 1965/1966).

A viagem com eles se tornava por demais agradável, pois no vagão restaurante, administrado pelo concessionário CARLOS AMANTINI, tomávamos cerveja Antártica e ou Brahma, meio gelada, e saboreávamos pratos deliciosos (ou na primeira mesa, às 11 h ou na segunda mesa, às 12 h, quando almoço, ou às 17 h, na primeira mesa, ou às 18 h,na segunda mesa, quando jantar), entre os quais, feijão (com pedaços de carne seca e lingüiça) com arroz, bife acebolado à cavalo ( com dois ovos fritos), bife à Camões ( com um ovo frito), quiabo com carne, maxixe com carne, salada de alface, tomate e cebola (temperada com o conhecido azeite Maria) e, por fim, o famoso macarrão com galinha (que não conhecia e que degusto até hoje).

E com ansiedade esperávamos a travessia do Rio Paraguai, percorrendo com olhares atentos a linda ponte BARÃO DO RIO BRANCO e ou PRESIDENTE EURICO GASPAR DUTRA, e mirávamos maravilhados o caudaloso e perene curso d’água.

Esse era o TREM DO PANTANAL que conheci e que muitas vezes viajava com minha família a Avai ( cidade próxima de Bauru) para visitar meu compadre, cunhado e irmão, Dr. IUNES TAJHER IUNES, médico, hoje aposentado do Estado de São Paulo.

Esta é a inesquecível lembrança do TREM DO PANTANAL que guardo dentro de meu coração, e creio, todos aqueles que nele viajaram.

Mas vem por aí o novo TREM DO PANTANAL que será inaugurado, segundo a imprensa de nosso Estado, dia 8 de maio do ano em curso, pelo excelentíssimo senhor Presidente da República, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

Seja bem-vindo ilustre Presidente, pois sua esperada presença marcará de forma significativa e inesquecível aquele fato histórico e de extraordinária repercussão no turismo regional, e porque não, nacional.

Como SONHAR NÃO CUSTA NADA, como cantado no riquíssimo cancioneiro popular brasileiro, auguro que aquela memória acima narrada seja de alguma forma resgatada com o novo TREM DO PANTANAL, mesmo porque, e por derradeiro, registro que o homem e a mulher vivem de sonhos, porque se o homem e a mulher não tem sonhos, não vivem.

Eu não, eu quero e vou continuar a ter sonhos e, assim, continuar a viver.

E viver bem, muito bem, sempre na companhia de minha querida esposa ANICE, de meus amados filhos,netos, familiares e amigos.

(*Carlos Bobadilha Garcia é advogado militante em Corumbá-MS)