Em tempos de solidariedade, advogado contrata dois profissionais com deficiência visual
“Somente com experiências iguais a essas é possível romper as barreiras”. A mensagem de esperança do Bacharel em Direito e deficiente visual João Marcos Tavares Ferreira é um agradecimento ao emprego em um escritório de advocacia de Campo Grande. Há três meses, o Advogado Rodrigo Duarte decidiu contratar dois profissionais com deficiência visual.
João Marcos Tavares Ferreira contou que passou mais de três anos procurando uma oportunidade. “A presente experiência em trabalhar em um escritório de advocacia se tornou algo gratificante para mim, mesmo diante das inúmeras barreiras e limitações impostas pela sociedade as quais tive que vencer, uma vez que pela minha deficiência sempre me negavam um trabalho”.
O Advogado Rodrigo Duarte contratou João Marcos Tavares Ferreira, de 52 anos, e Roberto Cassio, de 24 anos. Os dois são bacharéis em Direito e deficientes visuais. “Eles nos contaram que não tiveram oportunidade de ter contato com a prática em um escritório por suas limitações visuais. Adequamos a estrutura, na questão da mobilidade e softwares nos computadores. Hoje, eles nos acompanham nos Tribunais e apesar de ainda existir um pouco de resistência e limitações, vejo como uma vitória essa chegada deles aqui. Eles estão estudando para o Exame de Ordem, tenho certeza que vão passar e logo serão advogados de sucesso. É um sonho, principalmente agora que já estão empregados e estimulados a seguir a carreira, que até então estavam quase desistindo pela falta de oportunidades no mercado de trabalho ”.
O desânimo a que Rodrigo Duarte se refere é o resultado da falta de oportunidades no mercado de trabalho às pessoas com deficiência. O direito à profissionalização e ao trabalho está garantido no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). No entanto, não é raro ouvir sobre a dificuldade em encontrar emprego para uma pessoa com deficiência, seja visual, auditiva, física, etc.
Pouca gente sabe, mas existem programas de acessibilidade específicos para o deficiente visual que podem ser instalados nos computadores e celulares, facilitando a rotina no trabalho, nos estudos e em casa. Rodrigo citou assim que não são impossíveis as adaptações, por isso a necessidade de mais informações aos empresários sobre o acesso das pessoas com deficiência visual ao mercado de trabalho.
“Existe um abismo muito grande entre a teoria e a prática e que somente com experiências iguais a essas é possível romper tais barreiras. Certamente, se iguais oportunidades fossem oferecidas aos demais cegos, e outros deficientes, seria muito importante para a efetivação da inclusão”, disse João Marcos Tavares Ferreira, também formado em Pedagogia, Teologia e com Pós-Graduações no currículo.
Roberto Cássio acredita que a nova experiência é um divisor de águas na sua carreira profissional. “Para as pessoas com algum tipo de deficiência exige-se, no mercado de trabalho, não só o aprendizado do ofício, mas também, como superar as possíveis barreiras que vão encontrar no caminho. A mentoria leva em consideração as minhas capacidades e limitações enquanto pessoa com deficiência visual. A oportunidade correta, como a que eu tive, pode contribuir para a desconstrução de que a pessoa com deficiência é, de alguma forma, menos capaz do que uma pessoa sem deficiência, desenvolvendo suas atividades de maneira profissional e competente”.
A Presidente da Comissão do Direito das Pessoas com Deficiência e da Acessibilidade (CPDA) da OAB/MS, Rita de Cássia Luz parabenizou a iniciativa do Advogado Rodrigo Duarte e destacou a importância da inclusão. “Anteriormente, a visão médica era de que a pessoa com deficiência era doente, hoje em dia, ao contrário, as pessoas estão buscando seus direitos e tendo visibilidade no mercado. No entanto, a pessoa com deficiência tem o impedimento que a sociedade está impondo. Mas, o trabalho dignifica o homem. É uma oportunidade que a lei os garante. Todos merecem uma oportunidade, homens e mulheres com deficiência. Dessa forma, vamos construir um mundo melhor”.
Texto: Catarine Sturza