João Glauco Arrais: De engraxate a advogado, lutou pela classe e criação da Subseção Caarapó

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“Durante 33 anos de efetiva advocacia, procurei ser honesto, dedicado, responsável e sempre agir com ética” 

“Desistir” é uma palavra que não existe no vocabulário de João Glauco Alencar Arrais. Filho de trabalhadores rurais, ele começou na roça, depois trabalhou como engraxate e vendedor ambulante até realizar o sonho de ser advogado. Com 38 anos de carreira, ele relembra a trajetória, do interior de São Paulo a Caarapó, onde participou da criação da Comarca e fundou a Subseção da OAB/MS.

Filho de nordestinos, Napoleão Monte Arrais (96 anos) e Maria Eci Alencar Arrais (92 anos), Arrais, nasceu em Presidente Bernardes, no dia 13/02/51. Na infância, ajudou os pais na roça quando eram trabalhadores rurais, antes de se tornarem comerciantes. “A infância foi difícil, pois meus pais, embora não tenham formação acadêmica, queriam que todos os filhos estudassem. Apesar das dificuldades, todos os três hoje com formação universitária, um médico, um dentista e o mais velho também advogado”.

A primeira tentativa de cursar Direito foi em Passo Fundo/RS. “Eu morava em Curitiba com meu irmão, quando comecei a trabalhar no Banco Itaú e fui transferido para o Rio Grande do Sul. Lá ingressei no curso de Direito da Universidade Federal, porém não consegui estudar, pois não tinha como me manter, já que as aulas eram durante o dia”.

Arrais não desistiu e ao passar férias em Presidente Prudente para ver a família decidiu fazer um novo vestibular, dessa vez na Instituição Toledo de Ensino. “Passei, pedi demissão do Banco Itaú, passando a trabalhar no Banco Finasa, onde fiquei por três anos. Fui demitido, uma vez que na época exigia trabalhar parte da noite, como não queria perder aula, falei para Diretoria do Banco em uma reunião que na verdade queria ser advogado, me demitiram, pois eles queriam pessoas que quisesse fazer a carreira bancária”.

Ele lembra que não foi o melhor aluno, mas que apesar das dificuldades conseguiu realizar seu sonho. ”Fui um aluno mediano, concluindo o curso com trabalho e muita dificuldade financeira. Para pagar o curso, eu fiz o Crédito Educativo, bem como recebia Auxílio para manutenção (Iniciei o pagamento após um ano de formado). Foi então que me formei em Direito pela Faculdade de Toledo em Presidente Prudente, no ano de 1981. Das festividades da formatura, participei apenas da colação de grau, já que a missa, o baile, jantares e despedidas, ficaram apenas no sonho, pois não havia condição financeira para isso”.

 Início da carreira

Após passar no Exame da Ordem, ele decidiu percorreu vários estados procurando uma cidade para se estabelecer. “Montei escritório no estado de Rondônia, e antes mesmo de iniciar os trabalhos naquele Estado, recebi uma proposta para trabalhar em Caarapó. Como ficava mais próximo da família, optei pela mudança e abri novo escritório na cidade, em dezembro de 1980. Iniciando a advocacia propriamente dita em Caarapó no dia 07 de janeiro de 1981”.

Os primeiros honorários, ele comenta que “só deu para pagar o hotel e o aluguel do escritório”.  E as dificuldades não paravam por aí. “Advocacia foi difícil no início, pois a Comarca era em Dourados, cidade a 45 km de Caarapó, e a estrada ainda era de terra e tinha muita violência, porém com a dedicação venci todas as dificuldades naquele período”, diz sem esquecer do fiel companheiro, um Fusca verde, ano 1969.

Um dos primeiros advogados da cidade de Caarapó, Arrais foi convidado a assumir a Procuradoria do Município, onde permaneceu por 14 anos. “Tive efetiva participação como advogado na criação do município de Juti, onde também fui assessor jurídico por seis anos em duas administrações. Participei da criação da Comarca de Caarapó, estive presente na sua instalação, bem como lutei com as lideranças na criação da Segunda Vara da Comarca. Com a criação da Comarca, tornou-se a advocacia mais fácil, vindo outros colegas, onde os Juízes e promotores em grande parte eram dos novos concursos”.

Trajetória na OAB/MS

Compreendendo as necessidades e os anseios da advocacia no Interior, Doutor Arrais foi delegado da Subseção de Dourados, depois assumiu a Vice-Presidência e uma cadeira no Conselho Seccional. “Tive a oportunidade de exercer a Presidência em Dourados por um período, em decorrência do Dr. Arfux, Presidente da Subseção na época, ter tirado uma licença. Tenho muito orgulho de ter sido Vice-Presidente e ter assumido a Subseção de Dourados. Fui Conselheiro da OAB/MS, onde lutei junto com os colegas para criação da Subseção de Caarapó”, agradecendo os colegas Afeife Mohamad Hajj (Hoje Conselheiro Federal), Vladmir Rossi (Ex-Presidente), Geraldo Escobar (Ex-Presidente), Elenice Pereira Carille (Ex-Presidente), pelo empenho que tiveram para criação da Subsecção.

Após a criação da Subseção, ele criou uma Comissão para angariar fundos para a construção da sede. “Conseguimos com o Tribunal de Justiça uma autorização disponibilizando uma pequena área junto ao Fórum. A construção teve esforços de vários colegas de Caarapó e de nosso Estado. As despesas com o levantamento do prédio foram patrocinadas pela sociedade de Caarapó. Mobiliário, pintura e informatização foi de responsabilidade da Seccional”.

No dia 18 de julho de 2003 ocorreu a instalação e inauguração da Subseção Caarapó e Doutor Arrais foi empossado ao cargo de Presidente. “Fizemos (Junto a Diretoria da época) um ótimo trabalho pela nossa Subseção e pela classe. Sempre tive efetiva participação junto, pois conheci o Dr. Afeife sendo este um grande lutador em defesa de nossa classe, que me incentivou a participar da OAB/MS, sempre representando Caarapó, passando ser um porta voz dos colegas”. Afeife foi Presidente da Subseção Dourados e está na terceira gestão como Conselheiro Federal da OAB Nacional, representando Mato Grosso do Sul.

Em 2006, com cerca de 30 anos de advocacia, ele foi diminuindo os serviços advocatícios, se aposentando definitivamente por volta de 2012. “Mantenho a minha inscrição na OAB 2962-B, por respeitar a nossa classe e por ter muito orgulho dela ter participado efetivamente”, agradecendo pela oportunidade de ampliar laços de amizade e de conhecer grandes juristas, juízes, promotores e defensores e servidores da Justiça.

Aposentado, aos 69 anos, ele agradece a vida que a advocacia proporcionou. Casado com a Pedagoga Helena Moreno Arrais, Coordenadora Pedagógica aposentada, Arrais tem quatro netos e três filhos, dois médicos e uma advogada: os Médicos Breno Moreno Alencar Arrais (36 anos) e Lindemberg Moreno Alencar Arrais (29 anos) e A Advogada Gardênia Arrais Bacher (33 anos).

“Não desistam nas primeiras dificuldades”

Aos jovens advogados, Doutor Arrais deixa o recado: “Sejam honestos em suas atitudes, lutem pelos seus direitos e pelas prerrogativas do advogado, não desistam nas primeiras dificuldades, não se intimidem diante do Judiciário, respeitem, pois hierarquias não existem. Nunca desistam de lutar pelas causas justas, mesmo que não haja a recompensa financeira”.

A um mês para completar os 38 anos de carreira, Arrais é fonte de inspiração a todos os advogados e advogadas. Exemplo de força e superação, ele concluiu a entrevista reconhecendo a carreira que escolheu: “Se tivesse que escolher uma profissão novamente, escolheria ser advogado, percorrendo o mesmo trajeto”.

Glauco Arrais, assim como Aparecidos dos Passos, Belmira Vilhanueva e Osvaldo Feitosa de Lima, foram entrevistados pela Equipe de Imprensa da OAB/MS, no Projeto ‘Compartilhando Conhecimentos’. O objetivo da Seccional é trazer ao conhecimento de todos um pouco da carreira e vida daqueles que escreveram a história da advocacia sul-mato-grossense.

 

Texto: Catarine Sturza / Fotos: Arquivo Pessoal