“Massagem Express!”
Dênerson Dias Rosa Moro em frente a um parque, não um parque infantil, mas algo como uma mini reserva ecológica, situada no meio da cidade, na qual se encontram inclusive algumas espécies de animais silvestres, e ao redor do qual as pessoas se reúnem para fazer suas caminhadas diárias. Em um dia destes, chamou-me a atenção, ao olhar pela janela, um pequeno toldo no qual estava escrito “Massagem Express”. Ao fazer minha caminhada matinal, passei ao lado do toldo e exprimi minha curiosidade em relação ao que se tratava. O proprietário do toldo me mostrou todo um arsenal de apetrechos para massagem. Seu objetivo era prestar seus serviços às pessoas que habitualmente faziam caminhada ao redor do parque. Poucos dias depois, ao olhar, de manhã, pela minha janela, outro fato me chamou a atenção, havia mais um toldo, próximo ao anterior, neste escrito “Personal Trainer”. Não foi difícil deduzir do que se tratava, dedução que confirmei estar correta quando passei por lá e parei para conversar o rapaz que lá se encontrava. Ele era formado em Educação Física e, como o mercado, segundo suas próprias palavras, “não está fácil para ninguém”, resolvera utilizar aquele local para atender às pessoas que estivessem interessadas em exercícios aeróbicos e ginástica. Alguns dias se passaram, e ambos os toldos não mais estavam lá, o que novamente me chamou a atenção, já que ambos os “negócios” pareciam estar indo muito bem, a contar pelo número de pessoas que os estavam utilizando. Ao fazer minha caminhada matinal, parei junto a um vendedor de coco, cujo carrinho fica próximo ao local no qual estavam instalados ambos os toldos e, ao comprar-lhe uma água de coco, perguntei-lhe sobre o que havia ocorrido em relação a ambos os micro-empresários que até o dia anterior estavam estabelecidos ao seu lado. Ele me esclareceu que, segundo suas próprias palavras, “a Prefeitura os tinha proibido de ficar, já que nenhum deles tinha o Alvará”. Imaginei mais dois micro-empresários a engrossar as estatísticas dos empreendimentos que se iniciam e acabam em menos de um ano ou, no caso concreto, em menos de um mês. O vilão tinha sido a Prefeitura, que impediu a ambos os empresários de exercer suas atividades legítimas pela simples falta de um Alvará. Bem, não se pode tirar a razão da Prefeitura, afinal, se cada um puder estabelecer um toldo em uma via pública para vender ou prestar os serviços que quiser, as vias públicas ficarão simplesmente intransitáveis. Na verdade, o que eu pude ver foram duas demonstrações do imenso espírito empreendedor do povo brasileiro, que sabe usar também seu famoso jeitinho para vencer situações adversas, como a dificuldade atual de encontrar colocação no mercado de trabalho. O grande problema é que este espírito empreendedor não tem recebido muita guarida por parte do Poder Público. Ao contrário do que ocorre em muitos outros países, no Brasil praticamente inexiste qualquer apoio às pessoas que decidem iniciar uma atividade empresarial. O Brasil é campeão mundial em quantidade de novos empreendimentos por habitantes, mas o Brasil é também o campeão mundial quando analisado o percentual de empreendedores que, no prazo de um ano, são levados a encerrar suas atividades. Quanto ao primeiro fato, credito-o principalmente ao espírito empreendedor do povo brasileiro, em relação ao segundo, credito-o em parte à falta de apoio, por parte Poder Público, em relação àqueles que decidem iniciar uma atividade empresarial. Contudo, não que se pode imaginar que o simples fato de o Poder Público apoiar os empreendedores seria uma garantia de que seus negócios seriam bem sucedidos, mas com certeza reduziria significativamente a quantidade de empreendimentos que vem a fracassar em virtude de falta de preparo das pessoas que estão à sua frente. Gasta-se muito, no Brasil, em programas de capacitação profissional dos trabalhadores, por outro lado, gasta-se quase nada em programas de capacitação profissional de micro-empresários. Capacitação e qualificação profissionais têm por objetivo garantir emprego aos que já os possuem, e permitir aos demais que possam ser facilmente absorvidos pelo mercado de trabalho, contudo, se não houver uma efetiva preocupação governamental em estimular e apoiar os micro-empresários, não serão significativos os resultados obtidos com a capacitação e qualificação dos trabalhadores, já que estes dependem da existência dos empreendedores para que lhes possam gerar os postos de trabalho. Dênerson Dias Rosa, ex-Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda de Goiás é consultor tributário da Tibúrcio, Peña & Associados S/C.