País não perderá guerra contra o crime, diz Lula

Data:

Segundo presidente, “indústria” com “braço político” e “judicial” tenta acuar sociedade Manifestação em frente do Tribunal de Justiça (TJ), onde o corpo do magistrado foi velado: faixas de protesto e reações de indignação O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou ontem o assassinato do juiz da Vara de Execuções Penais Alexandre Martins de Castro Filho, em Vila Velha (ES), em um discurso para cerca de 10 mil metalúrgicos da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O presidente afirmou não saber quem executou o magistrado, mas disse que a população “pode ter certeza de que, se a morte é uma ação do crime organizado ou do narcotráfico, nós vamos ganhar essa guerra”. Lula lembrou a morte, há dez dias, do juiz-corregedor Antônio José Machado Dias, ocorrida em Presidente Prudente (SP). Disse que será preciso um combate duro e constante na área de segurança. “A bandidagem hoje é organizada. É uma indústria de fabricar dinheiro, ora com as drogas, ora com seu braço empresarial, político, judicial ou internacional tentando aterrorizar as pessoas de bem”, afirmou. “A maioria do povo vive do seu suor, do seu trabalho, quer trabalhar e viver em paz, construir sua família e não podemos ficar assustados 24 horas.” Desde cedo, assim que foi informado em São Paulo pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, do assassinato do juiz – que trabalhava na força-tarefa contra o crime organizado no Estado -, Lula determinou ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que fosse ao Espírito Santo acompanhar o caso e colocasse toda a estrutura da Polícia Federal à disposição da polícia local, para auxiliar nas investigações. Apesar disso, segundo seu porta-voz, André Singer, o presidente não comentou sobre qualquer possibilidade de intervenção no Espírito Santo. A preocupação do presidente é acompanhada por vários outros setores do governo. Desde o primeiro assassinato, as áreas de inteligência do governo, das Forças Armadas e da PF estão tentando municiar o Executivo de informações sobre as possíveis ligações do caso com o crime organizado. Militares e agentes da PF mostraram preocupação de que esse tipo de ocorrência signifique o início de um processo sistemático, fruto de uma ação planejada, que deixe o País refém do crime organizado. Autoridades federais criaram até um neologismo, comentando sobre o risco de o Brasil estar se transformando em uma “Italômbia”, mistura de Itália com Colômbia. Quanto às Forças Armadas, os militares acham que o governo federal precisa dar demonstrações de força contra o crime organizado. O temor, tanto da PF quanto dos militares, é o de que, como depois do assassinato do juiz de Prudente não houve providências, só promessas, o que se verificou foi uma nova prova de ousadia dos bandidos. Há ainda em Brasília a preocupação de que as ações do crime organizado possam ter conseqüências para a economia. O raciocínio é o de que a imagem do País possa ser abalada pela eventual avaliação do mercado de que as instituições no Brasil são fracas.