Para Amilton Bueno de Carvalho, violência passou a ser um espetáculo
Campo Grande (MS) – Em palestra proferida nesta tarde de sexta-feira (6) no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, durante o segundo dia da XI Conferência Estadual dos Advogados de Mato Grosso do Sul, o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Amilton Bueno de Carvalho, disse que a violência sempre existiu, mas agora se tornou um grande espetáculo. “A violência passa a ser um espetáculo de dor e sofrimento e a mídia contribui para isso”, comenta. “As pessoas acreditam que a violência é resolvida com novas leis, o que na prática não acontece, a lei penal existe para quem não precisa dela”.
O desembargador explicou que na Suécia a violência tem índices baixos, porque todos são ricos. Já nos Estados Unidos da América os índices são altos, em função da desigualdade social. Carvalho ressalta que nossa sociedade elege uma classe como delinqüente, o que, no caso, é a chamada grande massa menos favorecida economicamente, e nela se apóia para colocar a culpa de todos os delitos “A culpa sempre é do pobre, do sem terra, dos negros”, observa. Bueno Carvalho não acredita na lei penal e não acredita no resultado que dela advém, que é a prisão “Para garantir todos os direitos do cidadão, devemos dar a menor pena possível”.
Um dos momentos em que a platéia ficou totalmente silenciosa foi quando o palestrante disse que todos são criminosos: “Somos criminosos quando dirigimos bêbados, quando sonegamos impostos, quando assinamos a folha de presença da faculdade pelo colega”, acrescentou e comparou. “O cidadão que mora no morro não vai cometer o mesmo crime de sonegação, porque não tem renda que gere impostos a pagar”. Os tipos de crime são diferentes entre as classes sociais no Brasil. E conforme frisou Amilton de Carvalho, entre a maioria absoluta dos cidadãos, como a punição deve ser aplicada a alguém, essa pessoa é sempre o outro. “Nunca somos nós. O outro sempre é o culpado. Eu posso cometer crime e não ser punido, mas o outro não”.
O desembargador também falou da sua profunda admiração pelo advogado criminal, que é um defensor de um contra todos. “Esses advogados sofrem preconceitos até mesmo dos colegas de profissão, por defenderem pessoas que podem ser inocentes e que são pré-julgadas pela sociedade”, comentou Carvalho.