“Sou apaixonado pelo direito”: De auxiliar de escritório a advogado, Eduardo Coelho Leal Jardim relembra 30 anos de advocacia
Em 1983, Eduardo Coelho Leal Jardim se mudou para Campo Grande para ocupar o cargo de gerente administrativo de três fazendas. Na época, a formação em contabilidade o fez abrir o próprio negócio. No escritório, interagindo com questões jurídicas, ele tomou gosto pelo direito.
“O direito aconteceu na minha vida de uma forma circunstancial, eu nunca planejei ser advogado. Portanto, posso dizer que fui e sou apaixonado pelo direito, especificamente do trabalho, sempre pautando pela justiça e pela ética”. Eduardo começou o curso de Direito na Faculdade Unisinos, no município de São Leopoldo – RS, enquanto era Auditor Interno da Empresa Kasper. Morando em Porto Alegre, ele viajava todos os dias de ônibus para assistir às aulas.
Quando se mudou para Campo Grande, reiniciou o curso na antiga Fucmat, onde terminou a graduação em 1989. Alguns meses depois recebeu a carteira da OAB/MS 4.920.
O Começo
Eduardo Coelho Leal Jardim nasceu no dia 13 de agosto de 1955, no interior do Rio Grande do Sul, na casa da avó materna, em São Pedro do Sul, cidade distante 60 km de Santa Maria. O pai, Seu Florduardo Coelho Jardim, era representante comercial e sua mãe, Dona Maria Helena Leal Jardim, do lar. Ele cursou o antigo primário, Ginásio e Técnico em Contabilidade, em Bagé.
Quando completou a maioridade foi contratado, como auxiliar de escritório, pela empresa Kasper & Cia Ltda, que vendia tratores Valmet, colheitadeiras, implementos e equipamentos agrícolas. Em 1977 foi diplomado no curso superior de Administração de Empresas. Logo depois, a empresa fechou as portas no RS e decidiu transferir os negócios para Minas Gerais. “Em julho de 1978 fui convidado pelo Gerente Paulo Bertolin para ser o contador da empresa Agropecuária e Florestal Nova Era Ltda, que tinha um escritório na cidade de Pirapora e outras duas fazendas em Minas Gerais. O objetivo da empresa era deslocar o escritório para a cidade de Belo Horizonte. O que se consumou. Permaneci como contador dessa empresa até outubro de 1980, quando fui convidado a ocupar o cargo de Auditor Interno, em Porto Alegre”.
Em 1983, a empresa fez uma permuta, trocando a indústria de óleo de soja por três fazendas em Mato Grosso do Sul. Eduardo foi convidado a ocupar o cargo de gerente administrativo, em Campo Grande e se mudou para cá “de mala e cuia”, como diz o gaúcho. Passou, assim, 11 anos trabalhando em prol desse grupo econômico. Um ano depois, ele decidiu abrir o próprio negócio, montou seu Escritório de Contabilidade.
A advocacia
“Ao exercer a contabilidade fui interagindo com questões jurídicas das empresas nas áreas tributária e trabalhista e, dessa forma, fui tomando gosto pelo direito, principalmente o trabalhista. O direito aconteceu na minha vida de uma forma circunstancial, eu nunca planejei ser advogado. Portanto, posso dizer que fui e sou apaixonado pelo direito, especificamente do trabalho, sempre pautando pela justiça”, conta Eduardo.
Nos primeiros anos como advogado, início da década de 90, Doutor Eduardo começou a prestar assessoria jurídica ao Sindicato Rural de Campo Grande. “Alguns associados dessa entidade sindical patronal gostavam do meu atendimento, passando a contratar-me para defendê-los nas ações judiciais”.
A confiança e ética em seu trabalho fizeram com que a carteira de cliente fosse aumentando. “Visava mais o interesse do cliente do que meu (até em demasia). Mantinha-me atualizado e era uma condição necessária porque fazia vários pareceres jurídicos e escrevia para o Jornal Informe Agropecuário do Sindicato Rural. Para me manter atualizado assinava os periódicos LTr, Síntese Trabalhista, Bonijuris e IOB”, lembra ele.
Doutor Eduardo era conhecido pela sua dedicação nas causas trabalhistas. “Certa vez o Ministro do Trabalho (TST) Marcio Eurico Vital Amaro, na época Desembargador do TRT 24ª Região, disse-me que eu incorporava demais os interesses dos clientes e, no mesmo sentido, o Desembargador André Luiz de Moraes disse-me que eu era muito combativo, condição essa que se vislumbrava nas várias sustentações orais que fazia no Plenário do TRT da 24ª Região”.
Quando questionado em como explica tamanha devoção, ele conta: “Seriedade, conhecimento jurídico atualizado e lealdade para com os clientes, princípios esses que devem nortear o trabalho do advogado, como de qualquer profissional. O advogado recebe uma procuração que lhe dá poderes para representar o cliente no processo e fora dele”.
Na Associação dos Advogados Trabalhistas de Mato Grosso do Sul foi membro da Comissão de Disciplina e Ética na gestão 1999/2001, 2° Secretário na gestão 2001/2003 e Tesoureiro e Presidente da Comissão de Disciplina e Ética na gestão 2003/2005.
Na OAB/MS foi Membro da Escola Superior da Advocacia na gestão 2001/2003 e Relator Titular da Secretaria de Ética e Disciplina na gestão 2004/2006, assim como membro da Comissão Trabalhista e da Comissão de Exame da Ordem, respondendo pelas provas de Direito do Trabalho e Direito de Processo do Trabalho.
A aposentadoria
Auxiliar de Escritório, Contador, Auditor Interno, Gerente Administrativo e Advogado. Trabalhando desde os 18 anos de idade, do interior do Rio Grande do Sul a Campo Grande, Doutor Eduardo se reinventou. Hoje, aos 65 anos de idade e 30 anos de advocacia, aposentado, ele foi acometido pelo Mal de Parkinson. A doença afeta as células do sistema nervoso central afetando os movimentos.
“Sou portador de Mal de Parkinson, doença essa que me deixou sem forças, fragilizado e que avança, não me permitindo mais atuar na defesa dos interesses dos clientes. Não advogado mais. A doença foi mais forte, vencendo-me. Derrota implacável, não cabendo Recurso Ordinário ou de Revista. Encontro-me aposentado por invalidez permanente. A ciência não conseguiu, ainda, um remédio para a cura. Por consequência, encontro-me afastado do exercício da advocacia, que eu aprendi a amar a partir do momento que passei a estudar o direito”.
Doutor Eduardo complementa que a advocacia, “é indubitavelmente uma profissão belíssima, mas que depende muito de se ter controle emocional e vontade de estudar, máxime diante das rápidas e constantes mudanças na legislação”.
Emocionado, ele mostra recado que recebeu, ao se aposentar, do cliente Persio Ailton Tosi, também advogado:
“Vou lembrar eternamente de sua postura profissional em defesa de seus clientes, especialmente da Marca 7 Pecuária. Vossa senhoria nunca fugiu de boa demanda, buscando acordo, caminho fácil aqueles sem tanta competência. Sempre tive muito conforto e sucesso nas demandas trabalhistas, porque V. S. nunca deixou de contestar cada item, cobrando-nos e comprovando sempre suas alegações.
A cobrança de honorário extra para demandas fora da capital, me levaram buscar também outros profissionais, e experimentei revezes que não conhecia sob seu patrono. O custo foi multo alto e pior ainda, o dissabor em ter que acatar decisões em sentenças de magistrados não comprometidos com a verdadeira Justiça! Obrigado amigo, e desculpe as oportunidades em que o contestei ou deixei de aprovar seus honorários maiores. Que a sua aposentadoria não lhe afaste do Direito, onde você vai continuar brilhando. Receba meu fraternal abraço! Saudações”.
Ele, com muito orgulho, cita ainda que tem dois filhos, que não seguiram a advocacia, mas que também escolheram belas profissões: “Um Médico Pediatra e a outra está formando-se em Psicologia. Tenho uma netinha com um ano de idade”.
Recado aos mais novos
As décadas de advocacia levaram Doutor Eduardo a admirar ainda mais a área jurídica. Para ele, a advocacia vai além do estudo da legislação. “Depende do bom senso do advogado em ter sutileza para saber discernir os pontos mais relevantes que devem fazer parte do processo. Ser organizado, pontual e franco para com o cliente, esclarecendo os pontos frágeis que poderão proporcionar-lhe a derrota. São procedimentos elementares para obtermos clientes e conservá-los”.
Aos mais jovens, ele pontua que é preciso estudar diariamente, “se manter atualizado, ser honesto e dedicado aos interesses do cliente colocando-os acima do seu. Não ser obcecado pelo dinheiro, mas, sim, vê-lo como um meio, e não como um fim”.
Ele deixa a seguinte mensagem para os advogados iniciantes, de autoria de Piero Calamandrei:
“Que quer dizer ‘grande advogado’? Quer dizer advogado útil aos juízes para ajudá-los a decidir de acordo com a justiça, útil ao cliente para ajudá-lo a fazer valer suas razões.
Útil é aquele advogado que fala o estritamente necessário, que escreve clara e concisamente, que não entulha a audiência com sua personalidade invasiva, não aborrece os juízes com sua prolixidade e não os deixa suspeitosos com suas sutilezas – exatamente o contrário, pois, do que certo público entende por “grande advogado”.
Doutor Eduardo Coelho Leal Jardim foi um dos entrevistados pela equipe de imprensa da OAB/MS para o Projeto “Compartilhando Conhecimentos”, que tem como objetivo incluir os advogados e advogadas decanos nas atividades da advocacia e valorizar aqueles que fazem parte da história de nosso Estado.
Texto: Catarine Sturza / Fotos: Arquivo Pessoal