Violência e urbanismo: o que há em comum?

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Violência e urbanismo: o que há em comum? – por Ângelo Arruda (*) 

No sábado dia 28 de abril, antes de iniciar a passeata convocada pela OAB-MS no movimento MS Contra da Violência, fui entrevistado pelo jornalista Marcos Eusebio, naquele momento, cobrindo o evento como assessor de imprensa da OAB. Lá estava eu, como cidadão e como dirigente de uma entidade de arquitetos e o jornalista me perguntou: o que fazes aqui, veio apoiar a Campanha da OAB? Eu respondi: sim, também, mas vim aqui para dizer a todos aqui presentes que a violência é também um problema urbanístico, tal qual a dengue.

Nesse momento o jornalista passou a se interessar pelo meu argumento pois todos, unanimemente acreditam que os problemas da violência urbana são causados pelo desemprego, condição social e a pobreza. Engano quem pensa assim. A experiência mundial aponta que a causa dos problemas da violência encontra-se ao nosso lado, na própria cidade e como ele encontra-se, do ponto de vista urbanístico.

Vejamos o principal exemplo desse argumento que apresento. Em Nova Iorque, nos anos 1990, o prefeito daquele imensa metrópole americana, visando diminuir os indicadores de violência convocou a sociedade local e dentre essa sociedade organizada, lá foram os arquitetos e urbanistas e o diagnóstico deles não poderia ser mais terrível para o administrador da cidade: urgentemente urbanizar as áreas da cidade. Traduzindo: terrenos baldios, praças sem uso ou muito estragadas, luminárias serem trocadas, espaços urbanos e públicos mais qualificados, escolas que deveriam abrir aos finais de semana; espaços de convivência novos para os mais novos e mais velhos se juntarem; cores na cidade; alegria nos equipamentos; mais conselhos da comunidade, etc, etc.e claro, mais policiais treinados para essa nova vida urbana.

Anos depois, não deu outra. Nova Iorque chamou de “tolerância zero” essa ação e pasmem, onde a criminalidade e a violência diminuíram foi, exatamente, nos bairros onde ela mais investiu nas propostas que os arquitetos propuseram anos antes. A resposta do urbanismo correto foi precisa: onde se urbanizou, onde os espaços foram devolvidos, recuperados ou criados e a comunidade foi conscientizada, os dados caíram, até o limite do zero. Ganharam todos, comunidade, poder público e principalmente a cidade que não suportava mais aqueles espaços públicos em péssimo estado de conservação ou inexistentes.

Passando agora para Campo Grande, podemos pensar e agir do mesmo jeito? Afinal de contas aqui não é Nova Iorque. O que fazer? Experiências distantes em urbanismo é algo que sempre devemos parar para refletir se podemos reproduzir, na mesma escala, nunca na mesma proporção. Nesse caso específico, não devemos comparar os bairros pobres nova-iorquinos com os nossos bairros mais pobres e mais violentos mas podemos, na escala apropriada, buscar referências para o tema.

Vejamos o exemplo do bairro Los Angeles, um bairro muito pobre localizado ao sul da cidade, ainda pouco ocupado mas que nele localizam-se as estatísticas mais pesadas de criminalidade e de violência. Lá, naquele bairro, que creio poucos campo-grandenses o conhecem, é um desses lugares da periferia onde a lei da selva impera. Falta tudo, serviços básicos, gente para morar, equipamentos sociais, etc. Sobram criminalidade e violência de toda a ordem. Nesse caso devemos repetir a experiência de Nova Iorque? Urbanizá-lo vai diminuir a violência? Claro que sim. E chamar os arquitetos da cidade e todos os profissionais envolvidos com o tema para opinar é o primeiro ponto que deve ser visto com bons olhos, antes até de chamar a polícia, pois ainda restam esperanças de que a violência pode deixar de ser um caso de polícia e ser um caso de toda a cidade.

É isso que a OAB e todas as entidades que apóiam o movimento contra a violência esperam, inclusive o Sindicato dos Arquitetos e o IAB e a FNA, que presido. O Correio do Estado em diversas reportagens tem dado cobertura e noticiado tudo que tem acontecido em nossa cidade e no Estado. Violência nas escolas, nas ruas, enfim, tem sido comum. No mais, algumas ausências importantes na passeata de sábado foram sentidas, como a da classe política e em especial a do governador do Estado, responsável pela Polícia Civil e Militar, que muito podem contribuir para que a violência diminua e até quem sabe, acabe em nossa cidade e em nosso Estado. Os arquitetos estão à disposição das autoridades. Como sempre.

(*Ângelo Marcos Arruda, Arquiteto e Urbanista, professor da UFMS e Presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas – FNA.)

Artigo publicado no Jornal Correio do Estado, edição desta quinta-feira, 3 de abril de 2007