Seriedade, ética e profissionalismo foram alicerces na construção dos 45 anos de carreira de Jorge Gai 

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Carreira alicerçada pela seriedade, ética e profissionalismo. É dessa forma que Jorge Antonio Gai define os 45 anos prestados até agora à advocacia. Ele nasceu em 1950 na cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, mas foi em solo sul-mato-grossense que constituiu família e escreveu história. 

Jorge tem nove irmãos. O pai era taxista e sustentava a família com muitas dificuldades, mas com um objetivo irrenunciável:  “sempre ressaltava que a única herança que poderia viabilizar a seus filhos seria o estudo, a instrução, pois para ele essa é a maior riqueza que alguém pode obter. Todos se conscientizaram desse objetivo, concluindo com êxito seus estudos”, rememora o decano.

Contrário de hoje em dia, que muitos jovens têm a oportunidade de  usufruir da adolescência, a de Jorge foi diferente. Ele precisou trabalhar e estudar ao mesmo tempo para conquistar objetivos.  “Assim que concluí o Ginásio passei a cursar o Colegial pela manhã e trabalhar à tarde em um escritório de contabilidade. Aos 18 anos,  me inscrevi em um concurso do Banco do Brasil,  que era muito concorrido, pois era dos melhores empregos da época.  Incluí-me entre os 10 aprovados e assumi as atividades na agência de Palmeiras das Missões, no Rio Grande do Sul”, lembra. 

Jorge foi aprovado no vestibular do ano de 1970, quando foi criada a Faculdade de Direito de Cruz Alta. Formou-se quatro anos depois. “Na época era permitida a frequência livre, com intensivos e exames semestrais. Estudei nessa modalidade nos dois primeiros anos, quando ainda residia em Palmeira das Missões. No terceiro ano, consegui transferência do Banco para Cruz Alta, onde concluí o curso”, compartilha. 

No dia da formatura, a pessoa mais feliz era o pai de Jorge. “Sem eu saber, o maior sonho dele era de ter um filho advogado”, lembra. 

Investindo na carreira

Mesmo atuando concursado, o objetivo era priorizar o exercício da advocacia. Como em Cruz Alta não havia muitas perspectivas, Jorge e os amigos de turma Alcides Landfeldt da Silva e Edemar da Cruz Carvalho decidiram iniciar a carreira em Mato Grosso do Sul. Abriram escritórios em Rio Verde, Coxim e Rio Negro. 

Jorge conseguiu transferência do banco e ficou responsável pelos trabalhos em Coxim. “À época o expediente bancário era só no período da manhã e o forense à tarde, de forma que havia perfeita compatibilidade entre as duas atividades”, recorda. 

O advogado sempre priorizou atuação nas áreas cível e trabalhista. “Nos anos 70 e 80 predominavam as questões fundiárias, com muitas litígios envolvendo posse e domínio de terras, que constituíram a maior parte de minhas ações. Passada essa fase, as demais questões fluíram normalmente”, cita. 

No ano de 1983 ele passou a integrar a carreira jurídica do Banco do Brasil S. A., inicialmente no Setor Jurídico de Coxim. A partir de 1993 trabalhou na Assessoria Jurídica Estadual, em Campo Grande. Aposentou-se em 1995 na função de Chefe Adjunto e retornou para Coxim, onde vive até hoje.                            

Constituindo a família 

Jorge conheceu Lúcia Guerra Gai em 1975, logo que chegou ao Estado. Dois anos depois se casou com ela e tiveram quatro filhos. A maioria deles se espelhou no pai e seguiu carreira jurídica.  “Apenas a caçula, Larissa, foi para outro caminho. Os demais: Johnny Guerra Gai, Rômulo Guerra Gai e Luciano Guerra Gai, se formaram em Direito e trabalham comigo. Johnny e Rômulo atuam predominantemente na área previdenciária. O Luciano, que também se formou em Ciências da Computação, trabalha comigo nas áreas Cível e Trabalhista e é quem resolve todos os problemas que surgem na área  de informática”, comemora. Jorge e a esposa tem cinco netos.

Amor à profissão

Apesar de ser uma das atividades mais difíceis de exercer, na avaliação de Jorge Gai, a advocacia o proporcionou muitas alegrias e a certeza do dever cumprido. “Na advocacia, o operador do direito deve dominar não só o saber jurídico. Advogar é, ao mesmo tempo, ciência, arte e abnegação. Há que se ter, além de uma visão panorâmica dos problemas sociais que afetam as coletividades,  também uma satisfatória compreensão das mais diversas áreas do conhecimento, pois isso, diuturnamente nos é exigido para exercer nossa atividade”, pontua.

O decano lembra que no início da década de 1980 não havia nenhuma subseção da OAB na região norte do Estado. Todos os profissionais eram ligados à Seccional de Campo Grande. Segundo ele, a Subseção Coxim foi criada a partir do sonho do amigo José Cândido de Moraes, que formou-se em Direito aos 65 anos, em 1982, na Capital.

 “Iniciamos as tratativas junto à Seccional e obtivemos êxito. Assim, foi criada a Subseção da Ordem de Coxim, envolvendo as comarcas de Coxim, Rio Verde e Pedro Gomes, onde fomos eleitos como o 1º Presidente. A instalação ocorreu em 10 de junho de 1983, em Seção realizada pelo Presidente da Seccional Estadual, Renê Siufi. Na gestão seguinte da Seccional Estadual, presidida por Hélvio Pissurno, exercemos a função de Conselheiro”, conta. 

Atualmente, Jorge faz parte da 1ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina (TED). “Dentre todos os integrantes de suas sete turmas, tenho a inscrição mais antiga, 1.419. Este foi o número que obtive no ano de 1975, quando me inscrevi em Cuiabá, à época do Estado uno. No último Colégio de Presidentes do Conselho Federal, realizado em Campo Grande, o decano recebeu “Comenda do Mérito Advocatício”. 

Segundo Jorge Gai, a advocacia é uma atividade dinâmica e que exige muito estudo e constante atualização.  “Nos últimos 45 anos, certamente foi o período da história dos povos em que houve as mudanças mais radicais no exercício de qualquer atividade e principalmente na advocacia.  O mundo, da fase da máquina de escrever mecânica passou para a elétrica, eletrônica e chegou a era do computador e demais aparelhos eletrônicos  e dos processos virtuais, onde a todo momento os procedimentos mudam, sem que se saiba até onde vai chegar. E, a tudo isso, tivemos que nos adaptar”, diz.

Com base em sua experiência, Jorge compartilha que, para exercer a advocacia de forma eficaz, é necessário, além do conhecimento técnico, espírito de combatividade e tenacidade na busca de direitos. Caráter sólido, personalidade independente e atitude firme ante as dificuldades encontradas na defesa de direitos e liberdades individuais.

“É indispensável rigorosa honestidade no trato dos problemas e interesses confiados. Também não pode ser esquecido o zelo pela Ética profissional, como expressão de normas morais que regulam a incessante labuta nos pretórios. Na advocacia aprendi, antes de tudo, que devemos ser autênticos. Temos que adotar um estilo próprio e procurar aperfeiçoá-lo constantemente.  Nossas petições devem traduzir nosso pensamento e nossa linha de conduta. Mesmo quando vierem a se utilizar de modelos ou trabalhos  pré-existentes, é aconselhável que cada um faça suas próprias adaptações”, destaca. 

Aos recém-ingressos na carreira, Jorge Gai orienta que o advogado, assim como o médico, deve saber diagnosticar e indicar o remédio correto para cada caso.  Se entender que o cliente não tem razão em suas pretensões, deve-se ter coragem de lhe dizer, mesmo sendo incompreendido. “Não se pode assegurar aos clientes nenhum resultado quando a questão for contraditória e depender do entendimento do julgador. Nem estabelecer prazo para o fim da demanda, pois este, de regra, depende mais do funcionamento da máquina judiciária e de eventuais recursos da parte contrária do que da intervenção do advogado”, frisa. 

Ainda aos jovens advogados, o decano deixar recado: “priorize a honestidade, pois quem assim agir, mais cedo ou mais tarde terá seus méritos reconhecidos. Aqueles que não forem leais com seus clientes ou procurarem soluções imediatistas, sem consistência, muito cedo se depararão com a rejeição da sociedade. Formar um conceito e deter um nome de destaque no mundo jurídico depende de muito trabalho e dedicação. Para perdê-los, qualquer deslize é suficiente”, enfatiza. 

Jorge Gai encerra a entrevista agradecendo a Seccional Mato Grosso do Sul pela oportunidade de compartilhar um pouco de sua história. “O exercício da advocacia, mesmo que espinhoso e às vezes não valorizado como merece, ao final nos deixa muitas alegrias e a recompensa da certeza de termos contribuído na busca do bem comum e de uma sociedade mais justa”, conclui.

Compartilhando Conhecimento

Jorge Antonio Gai ,assim como Salim Moises Sayar, Dinalva Garcia, Rosely Coelho ScandolaAna AbdoAlci AraújoJoão Glauco ArraisAparecidos dos PassosBelmira VilhanuevaOsvaldo Feitosa de Lima e Vicente Sarubbi, foram entrevistados pela Equipe de Imprensa da OAB/MS, no Projeto ‘Compartilhando Conhecimentos’, que tem como objetivo apresentar a todos um pouco da carreira e vida daqueles que escreveram a história da advocacia sul-mato-grossense.