“Encontrei minha verdadeira vocação”, diz advogada canônica Margarida Cavalheiro após idas e vindas

Vizinha do ilustre Wilson Barbosa Martins, primeiro Presidente da OAB/MS, Margarida Cavalheiro cresceu em uma família de nove irmãos, na Rua XV de Novembro n° 264, em Campo Grande.
“Minha família era humilde, mas bem relacionada com as famílias ricas da rua”, lembra a filha de pais paraguaios Conrado Cavalheiro e Antoliana M. Cavalheiro, que se casaram no então Mato Grosso uno, onde nasceu a prole.
Sobre a procura pelo Direito: “Não pensava em ser advogada. Era professora. Mais tarde, por incentivo de amigos que diziam que eu tinha vocação, parti para a área jurídica; que na época estava ao alcance de poucos”.
Em 1982, ela se formou em Direito na Faculdades Católicas Unidas de Mato Grosso (Fucmat), hoje Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Logo recebeu a carteira da OAB/MS e resolveu abrir o escritório. “Após a colação de grau, abrimos um escritório com as amigas do “grupinho” da sala e que éramos amigas desde o primeiro ano de faculdade”.
Naquele início dos anos 80 ainda eram poucos escritórios na cidade. “Os primeiros anos, cheias de sonhos e confiantes que existia justiça, batalhamos muito. Cada qual atuava em uma área da advocacia”, conta. Ela atendia empresas imobiliárias. “Não cheguei a fazer uma grande carteira, mas sobrevivia”. Naquela época não havia Especialização ou Pós-Graduação em Campo Grande.
Chegava à crise que se instalou no país dos anos 80 até início dos anos 90. A hiperinflação, que fazia um produto quase dobrar de preço de um mês para o outro, foi ao encontro das amigas advogadas. “E nos obrigou a entregar a sala do escritório que alugávamos. Cada uma tomou o seu rumo”. A Advogada resolveu ir para serviço público, sendo Procuradora do antigo DERSUL, atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). “No final da década fui demitida por inconveniência política”.
Decepcionada com os rumos que o Brasil tomava, ela deixou o país e foi morar no Paraguai. Passou os anos 90 no país vizinho, “em um escritório (não de advocacia) que mantinha negócios com o Brasil. No final da década de 90, o escritório fechou e precisei voltar para o Brasil, onde está a minha família”.
No retorno veio o convite do Bispo D. Vitório Pavanello para atuar no Tribunal Eclesiástico de Campo Grande. A área era do Direito Canônico. “Para isso, precisei fazer faculdade de Teologia ao mesmo tempo em que atendia ao Tribunal. Aperfeiçoei-me em Direito Canônico e fiz o meu Trabalho de Conclusão de Curso em Processos de Nulidade Matrimonial. Encontrei minha verdadeira vocação: Direitos Humanos”.
Com o passar do tempo, Doutora Margarida fez outra faculdade, pela Universidade Católica de Brasília de Direitos Humanos. “Até hoje sou advogada no Tribunal Eclesiástico Regional de Campo Grande, para causas de declaração de nulidade matrimonial”.
Aos 70 anos, viúva, com uma filha e três netos, após idas e vindas, ela ressalta que o importante na advocacia “é muito estudo, humildade, solidariedade com os colegas e humanidade com os clientes”.
Atualmente, Doutora Margarida, aos seus 38 anos de carreira, é Membro Fundadora da Comissão Regional de Justiça e Paz, organismo da CNDB – Oeste 1, e Membro Conselheira do Conselho Estadual de Direitos Humanos.
‘Compartilhando Conhecimentos’
Margarida Cavalheiro foi uma das entrevistadas do Projeto ‘Compartilhando Conhecimentos’, desenvolvido pela OAB/MS em 2020, com o objetivo de contar um pouco da carreira de advogados e advogadas decanos e valorizar esses profissionais que fazem parte da história de nosso Estado.
A equipe de imprensa já contou histórias de Marline Kalache, Salim Moises Sayar, Dinalva Garcia,Rosely Coelho Scandola, Ana Abdo, Alci Araújo, João Glauco Arrais, Aparecidos dos Passos, Belmira Vilhanueva, Osvaldo Feitosa de Lima,Vicente Sarubbi, Jorge Gai , Natalina Luiz de Lima, Ademar Mariani, Milton Melgaref da Costa, Silvia Bontempo, Eduardo Coelho Leal, Juracy Alves Santana, MárioPeron, Felix Balaniuc e Margarida Aidar.
Texto: Catarine Sturza / Fotos: Arquivo Pessoal